Hermes Trismegisto
- Patrick Leitão
- 5 de set.
- 4 min de leitura

Há muitos anos fiquei conhecendo a história deste personagem em conversas com um grande amigo, o mesmo que me fez ter curiosidade sobre este assunto e adentrai-me no estudo.
Hermes Trismegisto é o nome grego de um personagem mítico que se associou ao Deus egípcio Dyehuty (Tot em grego) e o deus heleno Hermes, ou o Abraham Bíblico. Hermes Trismegisto significa em grego "Hermes, três vezes grande". Em latim é: Mercurius ter Maximus.
Hermes Trismegisto é mencionado principalmente na literatura ocultista como o sábio egípcio, paralelo ao Deus Tot, também egípcio, que criou a alquimia e desenvolveu um sistema de crenças metafísicas que hoje é conhecido como hermetismo. Para alguns pensadores medievais, Hermes Trismegisto foi um profeta pagão que anunciou o advento do cristianismo. Foram-lhe atribuídos estudos de alquimia como a Tabela de Esmeralda – que foi traduzida do latim para o inglês por Isaac Newton – e de filosofia, como o Corpus Hermeticum. No entanto, devido à falta de provas conclusivas sobre a sua existência, a personagem histórica tem vindo a ser construída ficticiamente desde a Idade Média até hoje, sobretudo a partir do ressurgimento do esoterismo.
Origens Mitológicas
Segundo as crenças egípcias, os deuses tinham governado no antigo Egito antes dos faraós, civilizadores com os seus ensinamentos. Nelas, o Deus egípcio Toth era o Deus da sabedoria e o padrão dos feiticeiros. Era também o guardião e escrevente dos registros que continham o conhecimento dos deuses. Clemente de Alexandria considerava que os egípcios tinham quarenta e dois escritos sagrados, que continham todos os ensinamentos dos sacerdotes egípcios.
Mais tarde, várias das características de Toth foram associadas ao Hermes da mitologia helenística, incluindo a autoria dos "quarenta e dois textos". Este sincretismo não foi praticado pelos gregos, mas no primeiro ou segundo século da Era Cristã, começou-se a chamar a esta fusão "Hermes Trismegisto", provavelmente por cristãos que tinham notícia dos textos egípcios. No entanto, em algum momento, a ambígua noção de divindade se transformou em um personagem histórico dos tempos iniciais da civilização ocidental, ao qual foram atribuídos outros escritos filosóficos.
Platão, em Timeu e Critias, comentou que no templo da deusa Neith em Sais, havia salas que continham registros históricos secretos de suas doutrinas que tinham uma antiguidade de 9000 anos. À identificação entre Toth e Hermes na figura de Hermes Trismegisto tem de ser acrescentada outra posterior, de caráter esotérico, pela qual Hermes Trismegisto é também Abraão, o patriarca hebreu, que teria começado duas tradições: uma solar, pública, retomada no Antigo Testamento, e outra privada, transmitida de mestre a discípulo, acessível no Corpus Hermeticum.
A Literatura Hermética
A chamada "Literatura Hermética" é, de certo modo, um conjunto de papiros que continham feitiços e procedimentos de indução mágica. Por exemplo, no diálogo chamado Asclépio, o deus grego da medicina descreve a arte de capturar as almas de demônios em estátuas, com a ajuda de ervas, pedras preciosas e aromas, de tal modo que a estátua possa falar e profetizar. Noutros papiros, existem várias receitas para a construção deste tipo de imagens e explicações detalhadas sobre como incentivá-las (as de alma), para poder introduzir nelas um nome gravado em uma folha de ouro, momento essencial do processo.
No entanto, não fica aí a literatura atribuída a esta figura mitológica. Os escritos herméticos, em geral, dão conta de uma determinada abordagem sobre as leis do universo. Asclépio nos fala constantemente de Deus, a quem se chama "o todo bom", para nos descrever as leis do universo. No Asclépio, como dizíamos, a figura de Deus não tem a consideração de quem fez todas as coisas, mas o próprio Deus "é" todas as coisas. Todos os seres vivos, tudo o material e imaterial, são para Hermes partes que agem dentro de Deus. Mas só os humanos somos um reflexo exato de Deus, o todo bom.
Também nos fala Hermes do tempo. De acordo com Asclépio, nº 27, o mundo é o... Entre os tratados atribuídos a Hermes Trismegisto, destaca-se o Corpus Hermeticum. É-lhe atribuída também a redação da Tabela de Esmeralda, que foi considerada pelos alquimistas o livro fundador da alquimia. Outras de suas obras mais destacadas seriam o Poimandres, o Caibalion (no qual se expressam de forma sintética as leis do universo), certos livros de poemas e o Livro para Sair ao Dia, também conhecido como "Livro dos Mortos", por ter sido encontrado dentro dos sarcófagos de alguns proeminentes egípcios.
Ressurgimento Medieval
Durante a Idade Média e o Renascimento, os escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, conhecidos como incontestáveis, beneficiavam de grande crédito e eram populares entre os alquimistas. A tradição hermética, portanto, é associada com a alquimia, a magia, a astrologia e outros temas relacionados. Nos textos distinguem-se duas categorias: de "Filosofia" e "Técnica" Hermética. A primeira ocupa-se principalmente da argumentação teórica sobre a qual o pensamento mágico se sustenta e a segunda aborda sua aplicação prática. Entre outros temas, existem feitiços para proteger os objetos por "arte mágica", daí a origem da expressão "hermeticamente selado".
A tradição cristã medieval o adorou como protetor e guia dos hermetistas, que praticavam as artes da alquimia, da magia e da astrologia.
A Tradição Islâmica
Hermes Trismegisto tem um lugar na tradição islâmica, embora o nome Hermes não apareça no Alcorão. Hagiógrafos e cronistas dos primeiros séculos da hégira islâmica identificaram Hermes Trismegisto com Idris, o nabi das suras 19, 57, 21, 85, a quem os muçulmanos também identificam com Enoque.
Segundo Antoine Faivre, o Idris-Hermes chama-se Hermes Trismegisto porque foi triplo: o primeiro, comparável a Tot, era um "herói civilizador", um iniciador nos mistérios da ciência divina e da sabedoria que anima o mundo. Ele gravou os princípios desta ciência sagrada em hieróglifos. O segundo Hermes, o da Babilônia, foi o iniciador de Pitágoras. O terceiro Hermes foi o primeiro mestre da alquimia. "Um profeta sem rosto", escreve o islâmico Pierre Lory, "Hermes não possui características concretas, ou diferentes a este respeito da maioria das grandes figuras da Bíblia e do Alcorão."
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