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A Serpente Cósmica ou as Três Serpentes Primordiais

  • Foto do escritor: Patrick Leitão
    Patrick Leitão
  • 25 de jun.
  • 3 min de leitura
Imagem representando o Ouroboros,  ou Serpente Cósmica.

 Lembre-se que o Espírito é incriado. O Demiurgo criou o Pasú à sua imagem e semelhança. O Espírito puro caiu e está aprisionado a um corpo que é à semelhança do universo criado pelo Demiurgo.


 A ‘serpente’ cósmica enrolada nas águas ‘escuras’ do Abismo Primordial ou Oceano da Energia Primordial (NUN), está enrolada precisamente em três voltas, pois, como lemos em Jaques Vandier: “Na origem existia um deus-serpente cujo nome, Kematef, significava ‘aquele que realizou seu tempo”. Esta serpente, que nada mais era do que uma forma de Amon, morreu, deixando seu filho, Irta — “o criador da terra” — a tarefa de criar a Ogdóada. Essa segunda serpente também era uma forma de Amon.


 Aapep é a terceira das três ‘serpentes’ ou ondulações da Energia Primordial a aparecer no Oceano da Energia Primordial, antes do nascimento de Deus em sua face oculta: Amon.


 A primeira ‘serpente’ que apareceu no NUN é Kematef: a ondulação entre o aspecto masculino e o aspecto feminino do NUN. Ela surgiu para pôr em ação a criação do Ovo Primordial, mas sua única participação nessa criação foi a “manifestação do seu filho Irta”, e assim que essa sua tarefa foi realizada, ela adormeceu e entrou em letargia.


 A segunda ‘serpente’ que se move no NUN é Irta: a ondulação entre o aspecto masculino e o feminino de Hel ou Hehu — o Infinito. A palavra Irta em egípcio significa “aquele que criou a terra”, e Isabel Franco, no seu Novo Dicionário de Mitologia Egípcia, observa que a primeira serpente está relacionada com o tempo, enquanto que a segunda está relacionada com o espaço, e que “quando a sua tarefa foi realizada, Irta entrou numa fase de letargia semelhante à morte”.


 A terceira ‘serpente’ é Aapep: a ondulação entre o aspecto masculino e o aspecto feminino de Ket — a Treva. Diferentemente das outras duas serpentes que surgem no NUN e que logo entram em letargia, Aapep (ou Apofis, em grego) representa a força que quer conduzir o universo ao estado anterior à criação. Age a todo momento para dissolver a criação e levá-la de volta à Treva Luminosa do Oceano da Energia Primordial, pois é a força entrópica** ou contrária às forças de criação.


 Num certo sentido, ela é uma dimensão do ‘Mal’: é a potência de dissolução que está sempre presente no NUN, mas que, de fato, não é mal algum, pois é, ao contrário, um dos princípios teogônicos fundamentais, sem o qual não haveria a passagem do Deus Inengendrado (Ogdóada Primordial) ao Deus Autoengendrado (Amon-Rê) e, por fim, ao Deus Engendrado — Thot.


 É interessante observar que essas ‘serpentes’ primordiais ou essas três voltas da ‘serpente’ primordial são análogas aos três véus da Existência Negativa da Cabala (Ein, Ein Sof e Ein Sof Aur), movendo-se ou enrolando-se em si mesmas para manifestar Deus em seu aspecto de Ehieh (Eu Sou) — nome divino que está em Kéter: nome que é o equivalente de Amon ou Amon-Rê na tradição egípcia.


 Corresponde também ao processo teogônico descrito pelo grande visionário alemão Jacob Boehme, quando ele explica a passagem do Sem Fundo (Ungrund) para o Fundo (Grund) — o primeiro sendo o ‘Nada’, o Abismo, a Deidade; o segundo, sendo Deus-Pai, que é a Vontade Criadora que nasce no Sem Fundo.


 “O Sem Fundo (Ungrund) é um eterno Nada, mas cria um eterno início como uma atração (ou desejo). Pois no Nada há uma atração por algo (...). Essa é a eterna origem da magia (divina), que cria em si, onde nada há.” Deus-Pai em Boehme corresponde ao Eu Sou (Ehieh) da tradição judaica e a Amon da tradição egípcia: “E compreenda aqui que a Vontade é um espírito, diferentemente da desejosa atração, pois a Vontade é uma vida imperceptível, mas a atração, ao contrário, é uma essência nesta.”


 O Ungrund (Sem Fundo) de Boehme corresponde a Ein (“Nada”) na Cabala e a NUN/Nunete (o Oceano da Energia Primordial ou Tenemu/Tenemute — o Errático ou Instável Primordial) na tradição egípcia.


 A “doce Vontade” que surge no Sem Fundo em Boehme corresponde a Amon/Amonete (o Deus Supremo Oculto masculino e feminino). E o desejo que, segundo Boehme, surge em seguida no Sem Fundo corresponde a Ket/Kelete (a Treva Primordial), que na Cabala é o Tsimtsum (a Contração ou Retração), que é a segunda volta da ‘Serpente’.

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