Sobre a Encarnação
- Patrick Leitão
- há 1 dia
- 5 min de leitura
Empsicose - E a Transmigração - Metempsicose das Almas

ÍSIS: SENHORA DA LUZ VELADA
ÍSIS: SENHORA DOS SETE VEÚS
1 – O espaço que se estende entre a Terra e o Céu foi dividido em regiões, meu filho Hórus, com mesura e justa proporção. Essas regiões receberam de nossos ancestrais diferentes nomes: uns as chamam de “zonas”; outros, de “firmamento”; outros, de “envoltórios”.
É para lá que vão — e de lá que vêm — as almas que se separam dos corpos e as que ainda não desceram aos corpos. Os lugares que elas ocupam correspondem ao seu mérito. Nas regiões superiores estão as almas divinas e régias. As almas inferiores em dignidade — e todas aquelas mais baixas — permanecem nas regiões inferiores. As almas médias estão nas regiões intermediárias.
2 – Assim, meu filho, as almas destinadas a reinar aqui embaixo partem das zonas mais altas, e, quando se desprendem dos corpos, é para lá que retornam — ou mesmo para ainda mais alto — a menos que tenham agido contrariamente à dignidade de sua natureza e às leis de Deus. Nesse caso, a Providência do Alto faz com que elas desçam às regiões inferiores, conforme a medida de suas faltas, do mesmo modo que conduz outras almas, menos potentes e menos dignas, das zonas inferiores a lugares mais elevados, se fizeram um caminho de progresso.
3 – Explica-se: lá em cima há dois ministros da Providência Universal. Um é o Guardião das Almas; o outro é seu Condutor — aquele que as envia e que define seus corpos. É em conformidade com o decreto de Deus que um as guarda e que o outro as solta e as faz descer.
4 – Assim, uma lei de equidade preside às mudanças que ocorrem lá em cima, do mesmo modo que, na Terra, ela modela e constrói os vasos ou corpos nos quais as almas são incorporadas. Ela também é assistida por duas forças: a Memória e a Experiência.
A Memória cuida para que a Natureza conserve e mantenha cada um dos tipos estabelecidos desde a origem e a mistura produzida lá em cima. A Experiência tem por função fornecer a cada alma que desce o corpo que lhe é apropriado, de modo que:
as almas energéticas tenham corpos energéticos;
as almas lentas, corpos lentos;
as almas ativas, corpos ativos;
as almas brandas, corpos brandos;
as almas potentes, corpos potentes;
as almas espertas, corpos espertos;
A fim de que cada alma tenha o corpo que lhe convém.
5 – Assim, não é sem finalidade que:
os animais alados são cobertos de penas;
os animais racionais são dotados de sentidos superiores e mais finos;
os quadrúpedes são dotados de chifres, de dentes, de garras ou outras almas;
os répteis receberam corpos ondulados e flexíveis e, para que seus corpos úmidos não os tornem muito frágeis, foram dotados de dentes ou escamas pontiagudas;
Quanto aos peixes — que são tímidos —, receberam por morada um elemento no qual a luz é privada de sua atividade dupla, pois na água o fogo não pode nem iluminar nem queimar. Cada um deles nada com auxílio de escamas ou espinhos, foge para onde quer, e sua fraqueza é defendida pela opacidade da água.
6 – Desse modo, as almas são encerradas nos corpos semelhantes a elas:
nos seres humanos, entram as almas dotadas de discernimento;
nos voadores, as almas que fogem do convívio humano;
nos quadrúpedes, as almas sem discernimento, para quem a força é a única lei;
nos répteis, as almas traiçoeiras — pois não atacam de frente, mas preparam emboscadas;
os peixes recebem almas tímidas e tudo o que não merece desfrutar dos elementos.
7 – No entanto, em cada espécie de animal há os que transgridem as leis de sua natureza.
HÓRUS: COMO ASSIM, MINHA MÃE?
ÍSIS: Por exemplo:
uma pessoa que age contra a razão;
um quadrúpede que se subtrai à necessidade;
um réptil que se esquece de sua malícia;
um peixe que perde sua timidez;
um pássaro que renuncia a seu medo do convívio com os seres humanos.
Eis o que eu tinha a dizer sobre a hierarquia das almas, sobre sua descida aqui embaixo e sobre a fabricação dos corpos.
8 – Todavia, meu filho, ocorre que em cada uma das classes dos entes citados existem almas régias. E elas descem aos corpos com diversas características: umas ígneas, outras frias; umas orgulhosas, outras doces; umas hábeis, outras desajeitadas; umas preguiçosas, outras ativas.
Essa diversidade é decorrente dos lugares dos quais partem para descer e se incorporar. Algumas descem de região régia, pois é a alma homogênea a esse lugar de origem que tem a função de reinar.
9 – Ora, há várias realezas:
a das almas;
a dos corpos;
a das artes;
a das ciências;
a das virtudes.
HÓRUS: COMO TU CHAMAS A ESSES REIS?
ÍSIS: Por exemplo, meu filho:
o Rei das Almas dos seres humanos que partiram daqui é teu pai, Osíris;
o Rei dos Corpos é o príncipe de cada nação que a governa;
o Rei da Sabedoria é o pai e instrutor de todas as coisas, Hermes Trismegisto;
o Rei da Medicina é Asclépio, filho de Hefesto;
o Rei da Força e do Vigor é Osíris — depois do qual, meu filho, és tu mesmo;
o Rei da Filosofia é Anebaskenis;
o Rei da Criação Literária é, de novo, Asclépio, filho do Imutável.
De maneira geral, meu filho, se refletires a respeito disso, perceberás que há muitos domínios, muitos reis reinando em muitos reinos.
10 – Todavia, aquele que tem autoridade sobre todos vem da Região Superior. Os reis que têm autoridade sobre este ou aquele lugar recebem esse posto conforme os lugares de onde vêm. Os que vêm de uma zona régia têm um posto régio.
11 – Os que vêm de uma zona ígnea tornam-se artesãos que trabalham com o fogo; os que vêm de uma zona úmida vivem nos lugares com água; os que vêm de uma zona capaz da ciência e da arte dedicam-se às ciências e às artes; os que vêm de uma zona preguiçosa passam a vida na inércia e na ociosidade.
É que tudo o que se faz aqui na Terra — por palavras ou atos — tem sua origem nas alturas, de onde as essências nos são dispensadas com medida e equilíbrio.
Nota: Festugière coloca uma observação para dizer que este título — “Sobre a encarnação e a reencarnação (da alma)” — parece ter sido acrescentado. E Louis Ménard observa que este título está no manuscrito de Estobeu, mas num lugar onde não há lacunas no texto, ou seja, onde não há descontinuidade entre o versículo do trecho anterior do Kore Kosmou e o versículo deste trecho.
Continua
Corpus Hermeticum – Hermes Trismegisto – Thot
コメント