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Ritual dos Exus Guardiões

  • Foto do escritor: Patrick Leitão
    Patrick Leitão
  • há 8 minutos
  • 3 min de leitura

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Deu meia noite, o galo cantou e o rei da encruza chegou, Oh, Oh filhos de Umbanda pedem agô.


Assim começou o ritual dos Senhores dos Caminhos no dia 02 de dezembro.

   A mata estava escura, o céu estava coberto de nuvens que jorravam sua água sobre a terra e fazia tudo germinar. O ambiente estava preparado. A chuva não era tão forte, acreditávamos que ela iria dar uma trégua para fazermos o ritual.

Assim, logo o ritual ganhou a sua vibração.


    O betume da noite foi quebrado pela iluminação do altar montado aos gloriosos e valorosos senhores da paralela da Umbanda, os nossos Exus Guardiões. O Guardião Chefe, Sr. Tiriri, é louvado com muito entusiasmo pelos filhos do terreiro. A ritualística ganha outras proporções, tudo se expande. E a encruza iluminada no meio do breu formado pelas árvores. E, ao centro, o bambuzal ganha as suas dimensões místicas.


    Na cadência dos cantos de Exu o corpo arrepiava, sentíamos o corpo balançar e o mental serenar. Tudo em um ritmo e movimentação harmoniosa. O corpo parecia não querer parar, no ritmo dos sons e das notas emitidas que penetravam o fundo da alma dos médiuns que ali estavam.


   Exu é o movimento e ordenação que vem da hierarquia maior! O que está em cima tem sua correspondência embaixo. Essa é a lei do universo.

  Em volta da encruza os elementares faziam suas manifestações. A escuridão tomava conta, a iluminação do altar de Exu ganhava proporções imaginárias no meio da mata. O silêncio era cortado com a intervenção dos nossos amigos noturnos com a sua linguagem caraterística. Em alguns momentos sentimos a sensação de que o breu era o nosso universo natural antes do Fiat Lux. Uma mistura de medo e ansiedade de quem está lidando com os mistérios da noite de Exu, mas a certeza da sua presença e sua assistência naquele momento sublime nos dava segurança e paz.


  No balançar dos galhos, quando já não chovia, o corpo começa a ganhar a temperatura que a terra nos proporcionava. É a magia de Exu. O céu se abre e a lua aparece e nos abençoa, mas logo volta a cair uma chuva fina.


   O ritual dos Exus masculinos se encerra, vamos ao ritual das senhoras Pombas-Gira montado ao lado. A chuva não está tão forte, o altar da senhora Pomba-Gira está montado embaixo de pequenas árvores com suas copas a protegê-lo. A beleza e a sutileza das rosas com a iluminação das velas fazia mais uma vez o nosso inconsciente despertar pela magia e pela força das senhoras da encruzilhada.


   “A gira está girando, deixa girar.” Sentimos a diferença da vibração das Pombas-Gira, que trazem aspectos diferentes dos trazidos pelos Exus masculinos. É tranquilidade, segurança, paz, amor e aconchego. Elas não são como diz o imaginário coletivo: mulher de sete Exus. Elas compõem com os Exus masculinos a coroa da encruzilhada. Talvez seja essa colocação uma forma de deixar as mulheres fora da evolução espiritual, ou até mesmo medo, de alguns, das mulheres. Podemos sentir o poder de liderança das mulheres, elas não apenas embelezam o mundo, mas também produzem e nos geraram, mas o tempo ainda irá nos dizer mais a respeito da sua força.


   A nossa religião não é machista, como alguns querem que seja. As nossas irmãs têm os mesmos anseios de felicidade e evolução espiritual. São verdadeiras trabalhadoras dentro dos templos, trazendo a sua sensibilidade em montar os nossos altares, no trabalho mediúnico e humanização. Muito temos que aprender sobre sensibilidade com elas. Elas são maioria pelos terreiros afora.


   O embalo dos pontos cantados nos faz sentir harmonia e enche a nossa alma de amor e carinho. É a própria sutileza penetrando no nosso ser e fazendo vir à tona o nosso esplendor espiritual. Como é lindo o canto das pombas-gira, cheio de magia e mistério.


  Os senhores Exus Guardiões e a senhora Pomba-Gira formam a coroa da encruzilhada. São, além de guardiões dos nossos terreiros, os responsáveis por outros aspectos que ocorrem em nosso planeta. Como auxiliares dos nossos Caboclos, Pais Velhos e Crianças prestam relevante serviço no dia-a-dia em nossos terreiros. São os responsáveis pelo expurgo dos fluídos negativos advindos dos pensamentos das humanas criaturas encarnadas como nós.


   Salve a Coroa da Encruzilhada,

   Salve o Sr. Tiriri,

   Salve a Sra. Hana Hayana,

   Salve todos os Exus que pisam e gritam na areia dos terreiros, que são vencedores de demandas!


Pai Carlos da Costa


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