O Poder do Sal
- Patrick Leitão
- 25 de jan.
- 5 min de leitura
O Iluminador de Almas

Fica apontado na Bíblia, LEVÍTICO 2, 13: "e temperarás com sal toda oferenda que presentes, e não farás que falte jamais da tua oferenda o sal do pacto do teu Deus; em toda oferenda sua oferecerás sal". Aquele que derramava o sal, animava o demônio para destruir a vida.
Desde a mais remota antiguidade, o sal tem sido tão valioso que era utilizado mesmo como pagamento no comércio. Em povos europeus e no próprio Império Romano, era pago com sal o trabalho diário (salário), já que a mesma se considerava um elemento difícil de extrair. As aldeias nasciam perto de onde se extraía. Roma tem origem em uma rota destinada ao transporte de sal.
Desde a Grécia antiga, o sal teve um grande poder simbólico: provém da mãe terra, do mar; as lágrimas e a saliva são salgados, e conserva, tempera e enriquece os alimentos. A Palavra Latina "Sal" significa também engenho, "Salsus" (Salgado) ironicamente. Homer chama "Divina" ao sal, que também era utilizado em sacrifícios expiatórios e mistérios para purificação simbólica. Os antigos romanos colocavam sal nos lábios dos lactantes para protegê-los de perigos.
Certos mitos sírios referem que os homens aprenderam com os deuses o uso do sal; gabija, uma antiga deusa lituana, era senhora do fogo sagrado e em sua honra se espalhava sal nas chamas. Dizia-se que os demônios abominavam o sal e ainda em lendas relativamente recentes sobre o "Sabbat das bruxas" diz-se que, no banquete que se oferecia, todas as iguarias eram sem sal. Na Bíblia, o sal é um meio simbólico de união entre Deus e seu povo (já incluímos no início deste artigo um conhecido encontro do Levítico); Eliseu purifica uma fonte deitando sal nela (II LIVRO DOS REIS 2, 19 e s. ).
No Sermão da montanha, Jesus chama aos seus discípulos o "Sal da terra" e o pai da Igreja Jerônimo (348-420) chama ao mesmo Jesus Cristo o sal redentor que penetra o céu e a terra. Também é conhecida uma ação destrutiva do sal: os romanos, após a destruição de Cartago, espalharam sal nos campos que rodeavam a cidade, para torná-los estéreis para sempre; segundo lemos, isto mesmo fez Abimelech na Bíblia com a conquistada cidade De Sichem (JUÍZES 9, 45).
Na Índia, o consumo de sal era considerado afrodisíaco, e era proibido aos ascetas e casamentos jovens, bem como aos brahmanes em certos atos sacrificiais. Na linguagem da Alquimia, ao falar de sal, não se refere ao cloreto de sódio, mas sim ao terceiro princípio primário junto em enxofre e mercúrio, que provavelmente (talvez pela primeira vez em Paracelso) representa a qualidade da "Palpabilidade". Sem Embargo, também lá se relaciona o "Sal" em outros conceitos simbólicos, por exemplo, " sal sapientiae ", saia da sabedoria.
A locução "com um granito de sal" (cum grão salis) significa que é preciso consumir algo só com prudência. Isto remonta a uma prescrição, mencionada em Plínio, para antídotos que só deviam ser consumidos com um granito de sal. "Tornar-se estátua de sal" faz referência à mulher de lote na destruição de Sodoma e Gomorra.
Em algumas culturas, como a russa, o sal era oferecido junto ao pão como um gesto de hospitalidade diante dos hóspedes. Na Arábia e outros países o ato de comer sal na companhia é altamente sagrado, chegando a merecer o nome de 'comunhão do sal'. Os árabes de Marrocos escondem o sal no escuro, para afugentar os maus espíritos, e nos países nórdicos se põe sal perto do berço das crianças para protegê-las de toda má influência. Nos costumes medievais, o sal separava os membros da família dos da servidão.
O sal, além disso, era utilizado como material nos sacrifícios; tanto os latinos como os gregos polvilhavam com sal a cabeça do animal no sacrifício que ofereciam aos deuses. O sal tem um uso muito frequente para a magia protetora e a cura. Entre os naturais do laos e do Siam, as mulheres recém-paridas lavam diariamente com sal e água, na crença de que é uma proteção contra os feitiços. Hoje em dia, vários grupos indígenas do Amazonas colombiano elaboram sais vegetais para uso ritual, medicinal e culinário.
O sal vegetal possui propriedades medicinais conhecidas pelos indígenas, mas muito pouco divulgadas. O sal de monte, no pensamento religioso e filosófico dos indígenas amazônicos, tem uma importância central na cosmogonia, nos rituais e na cura. Também se utilizava o sal para dar solenidade aos juramentos; assim entre alguns povos primitivos, aquele que jurava mergulhava o dedo no sal e depois pronunciava o juramento.
No terreno da superstição é muito curioso que em aldeias da África Central, a mulher, ao chegar à puberdade, é presa e é proibido o uso do sal; até quando chega o momento do casamento, no dia seguinte da noite. Do Casamento, a recém-casada dá sal no prato que guise e depois dá aos parentes para que se esfreguem com ele; se não dá, é sinal de que o marido é impotente.
Desde a antiguidade foi usado sal em rituais mágicos e esotéricos, utilizando esse elemento como agente purificador e dissipador de energias negativas. O costume de lançar um punhado de sal no ombro esquerdo para prevenir a má sorte é conhecido desde tempos antigos e baseia-se na crença de que se alguma entidade maligno se encontra perto de nós, ele se posa atrás do nosso lado esquerdo, por isso que ao lançar sal sobre o nosso ombro, se afastariam estes maus espíritos que estariam espreitando para cometer alguma maldade. Também é amplamente conhecido o costume de purificar ambientes espalhando sal pelos seus cantos, repelindo assim as energias negativas.
Em todos os rituais em que se invocam espíritos, traça-se um círculo mágico com sal, em que a pessoa permanece protegida, uma vez que se sabe que as entidades negativas não podem atravessar um círculo traçado com sal, e, para afugentar um espírito, basta lançar um punhado de sal para que este desapareça. Estava com sal nos cantos das quadras no dia de abril. Assim evitavam as doenças do gado.
Para contrariar o mal de olho, se banhavam em água com sal as plantas dos pés e as palmas da mão três vezes, se bebiam três goles da água salgada e depois se deitava ao fogo o que restou dessa água. Era costume dar sal ao fogo quando entrava em casa uma pessoa suspeita de se dedicar à feitiçaria. Também se evitavam as visitas de alguém indesejável deitando sal onde estava, pegando-a e queimando-a depois. Outro remédio utilizado era dar sal no limiar após a sua partida.
Acreditava-se que colocando um prato com sal debaixo da cama de um doente esta absorvia o mal e protegia contra a doença. Para evitar que uma criança sem ser batizada fosse objeto de feitiçarias, se amarrava às suas roupas um saco com um pouco de sal quando se colocava a dormir no berço. E diz-se que uma mulher não deve permitir que se acabe o sal em sua casa; nunca se deve ficar sem sal em casa porque isso traz má sorte.
Tanto para culturas indígenas como em tradições esotéricas, é usado o sal como ritual de limpeza e em banheiros de descarga e relaxamento. Os Magos usam sal para proteger as suas ferramentas, para desfazer maldições, para realizar uma eficaz limpeza do espaço.
O sal nunca se passa de mão na mão, mas sim que se apoia na mesa antes que outro a tome, já que quando se derrama, se perde algo de muito valor.
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