A Teogonia, Cosmologia & Teologia
- Patrick Leitão
- 26 de jan.
- 3 min de leitura

Isis, Senhora da Luz Velada
No inicio era o Verbo, e estava junto de Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no principio junto de Deus.
Tudo foi feito por intermédio dele e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida e a vida era a Luz dos homens.
"A Luz resplandece nas trevas e as trevas não compreendem." (Evangelho de São João, Prólogo* 1 – 5).
O Prólogo do Evangelho de São João desenvolve, numa síntese notável, as etapas que antecedem a manifestação Divina e dão condições e para que ela se dê. Embora na primeira frase do Prólogo o Verbo seja a etapa associada ao termo Bereshit (no inicio)**, pois é dito que "No inicio era o Verbo" (São João 1 – 1), ele é definido como a segunda etapa desse processo que antecede a criação, pois na sequência é dito: “ e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus".
Deus, ao mesmo tempo Primeiro Ser e Não–Ser, não pode definir-se em si mesmo, não pode significar se, exceto através de sua ação emanadora, o Verbo. Pois em si, Deus é Vacuidade, Nada (neant).***
Todavia, é preciso definir estes dois termos. Eles fazem referência ao primeiro véu da Existência Negativa da traição cabalística, chamada Ain, que pode ser traduzido por NADA (yien), ZERO.****
Esse primeiro Véu corresponderá ao “retiro” do Divino, que permitirá o surgimento de um Vazio Criador. Esse ZERO absoluto pode ser aprendido através de seu primeiro principio ativo, o Verbo: “No inicio ele (O Verbo) estava junto de Deus. Tudo foi feito por intermédio dele e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a Vida...” (João 1:-4).
Conforme o enunciado nesta passagem, o Verbo corresponde ao segundo Véu da Existência Negativa, chamado Ain Sof, normalmente traduzido por Infinito ou Ilimitado, que é associada a um desejo de vida e ser.
Esse desejo de Vida pede, por sua vez, um atributo ou objeto de emanação que lhe permita revestir-se e torna-se reconhecida por si mesmo: “e a vida era a Luz dos homens”, diz o Prólogo do Evangelho de São João na sequência. Essa Luz fez referência ao terceiro Véu da Existência Negativa, Ain Sof Aur, que significa precisamente, Luz.******
Porém, é preciso destacar que como trata-se de um campo incriado, que precede a manifestação Divina, a palavra Luz refere-se, aqui, a uma Luz original, não–dual, de certo modo potencial. Essa Luz original é a primeira resistência à primeira atividade do Verbo, de maneira que ela ao mesmo tempo vela e revela a Divindade.
* O Irmão pode encontrar na íntegra do prólogo do evangelho de São João.
** Bereshit, "No inicio" em hebraico, primeira palavra também do Livro de Gênesis: Bereshit barra Elohim (No inicio criou Deus êth ha shamam êth ha aretz (os céus e a Terra)
*** É evidente que esse NADA associado a Deus não é o vazio, nem o não–ser como os representamos com nossa mente dual, mas a absoluta plenitude que para além do Ser e do Não Ser, chamado pelo taoísmo de Tao inomeável, em relação ao Tao nomeável (Primeiro Ser/Grande Unidade) e, pelo hinduísmo, de Brahman (absoluto, o Um sem segundo), em relação a Brahma (o Ser).
**** A Existência Negativa é o processo que se desenvolve no interior da própria Divindade, antes de toda e qualquer manifestação, e se divide em três etapas ou véus que tem analogia com as Três Pessoas divinas da Tradição cristã. A primeira delas, Ain, também pode ser traduzida por Não–Coisa.
***** O retiro do Divino, o tzimtzum (contração ou retração) do cérebro do Absoluto, de entrada dele rabi Isaac Lúria (séc. XVI) – é um movimento de retração do Absoluto, de entrada Dele em Si Mesmo, para permitir o surgimento de um Lugar, de uma região vazia, desprovida da absoluta plenitude de Deus em si, a fim de poder ali criar o outro, isto é, os Mundos, e as criaturas através dos quais possa manifestar-se e contemplar Sua Sabedoria (Sua Ilimitada potencialidade criadora, até então oculta). Esse retiro do Divino estabelecerá a passagem entre a Existência Negativa (o Absoluto, o Infinito e o Indiferenciado) e a Existência Positiva (o ‘relativo’ , o ‘finito’ e o diferenciado)
****** Aur é Luz, portanto, Ain Sof poderia ser traduzido como Luz infinita ou ilimitada.
Ternário não Manifestado
1 – NADA
2 – LUZ – Infinito/Verbo Realização Pai Carlos
Fontes: Patrick Paul – Agrippa – Jacob Boheme
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